Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Clarice Lispector
Escrevo como se estivesse dormindo e sonhando: as frases desconexas como no sonho. É difícil, estando acordado, sonhar livremente nos meus remotos mistérios.Clarice Lispector

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Quero desnudar minh'alma. Aqui, ali e além...


Quero desnudar minh'alma. Aqui, ali e além...

Será que meu sentir é tão diferente assim?! Um sentir que (quase) me faz crer que não pertenço a este mundo.

Meu mundo transita entre o real e o imaginário. Real visto que não vivo de sonhos, embora precise do imaginário para sonhar o que o mundo não pode me oferecer. Meu mundo é colorido, torrencial e de uma alegria sem motivo. De um coração embevecido de paz.

Pessoas que explodem por nada me deixam entorpecida. Literalmente eu murcho. Fico apenas a olhar e pensar: Porque não me lembro de ter sido assim?

É certo que tenho tantos defeitos, mas talvez o outro tenha defeitos irremediáveis. Creio que somente a vida poderá mostrar ao outro o caminho a ser trilhado. Talvez um caminho com algumas pedras e espinhos, já que são necessários para amadurecemos.

Estou lendo Florbela Espanca. Ela foi uma mulher intensa que sabia que nenhum homem poderia corresponder ao amor que ela ofertava: “Um homem? - Quando eu sonho é o amor de um Deus?” (Poema “Ambiciosa”, Charneca em Flor, 1930). Eis que talvez todos estejam certos ao afirmar que Florbela nunca encontrou alguém capaz de merecer o seu amor. Um amor que transbordava poesia. De uma poesia que transbordava amor.

E na procura de algo que não existe nos tornamos melancólicos. Uma alma perdida...

Alma Perdida...

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…

Florbela Espanca-Livro de Mágoas.

2 comentários:

  1. Roseli, este sentimento de "não-pertença" é comum nas almas sensíveis!! Criar mundos imaginários faz parte do processo de fugir um pouco da dor, ou pelo menos de tentar transformá-la...

    "A alma doente...que se fundiu na dor" Lindíssimo!!!
    bjos

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  2. Oi Bethânia,

    Falando em almas sensíveis, a sua transborda em sensibilidade...

    Obrigada
    Bj

    l

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