Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Clarice Lispector
Escrevo como se estivesse dormindo e sonhando: as frases desconexas como no sonho. É difícil, estando acordado, sonhar livremente nos meus remotos mistérios.Clarice Lispector

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Sobre o ato de conhecer...




É óbvio que quando conhecemos alguém temos sempre uma primeira impressão. Penso que criamos obstáculos à imagem externada pelo outro ou, ainda, pela que projetamos sobre o mesmo. Nesse contexto, Gastón Bachelard disse que “O conhecimento do real é luz que sempre projeta algumas sombras”. Afinal, o conhecimento nunca é imediato e pleno. O real nunca é o que se poderia achar, mas sempre o que deveria ter pensado.
Eis que na fragilidade dos sentimentos humanos e no âmago do ato de conhecer que surgem lentidões e conflitos. E o verdadeiro ato de conhecer ocorre contra um conhecimento anterior, aniquilando a imagem estabelecida e surgindo a “real” face. Sentir o real demanda sensibilidade...
Ao escrever sobre o outro minha primeira intenção é sempre de atenuar as impressões desagradáveis, tentando mostrar uma imagem, na maioria das vezes, irreal. Hoje quero escrever sobre o real e desmistificar a imagem que projetei sobre o outro. E nesse momento de insanidade, deixo meus pensamentos serem levados pelas correntezas do rio. Eis que me entrego à escrita do meu sentir...
Delineei uma imagem rebuscada sobre ti. Hoje te vejo além...Entendo que criou um personagem de encenação, ou seja, um ser fictício Agarrou-se a ele num ato enloquente de sobrevida. Porém, hoje é um personagem que posso desmistificar... Entender...
Ontem toquei sua face e foi possível observar sua benignidade. Ontem as rosas exalaram pureza. Eis que surgiu outro ser diante dos meus olhos. E penso que não foi por acaso, já que tudo tem o momento certo de acontecer, até mesmo de a verdadeira face ser revelada...
Agora entendo seu olhar triste, já que sua alma é tão triste quanto a minha. Seria por não pertencemos ao mundo que nos cerca? Seria ele (o tal mundo) diferente? Talvez o nosso sentir sobre ele que o torna e nos torna distintos.
A primeira impressão nem sempre é a que fica. Diante que o ato de conhecer demanda tempo. Tempo nem sempre suficiente para lermos as entrelinhas.
Enfim, ontem senti tudo e de todas as maneiras...
Roseli A.
28/12/1010

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Dança Comigo?



Danças comigo.
Num ritual de sedução.

Cola seu corpo em meu corpo.

Desliza suas mãos em meu dorso.

Faz-me rodopiar!

E na tênue luz...

Envolve-me numa atmosfera de encantamento.

Embriaga-me sem pudor.

E alienados dos que nos rodeiam.

Entre olhares sedutores...

Nossos corpos se desejam

E entre sussurros e palavras soltas.

Entrego-me.

Deixo-me levar....



Roseli A.

28/12/2010

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Entre danças e rituais...


Quisera enloquecer.

Uma loucura amorosa

Quase poética.

E Sob a lua...

Entre danças e rituais.

Revelar meus mistérios.

E na sanidade que ainda me resta.

Partir e esquecer...


Roseli A.
27/12/2010

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Soneto de Amor Total...Vinícius de Morais...



Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.




domingo, 26 de dezembro de 2010

Somente impressões...


Tenho aprendido a tratar o outro com respeito. Respeito pelos sentimentos, opções, enfim, pelo modo do outro sentir e ver a vida. Quem sou eu pra discordar de algo? Para ser a dona da verdade? Diante que ao outro compete tomar suas próprias decisões.
Cresci ouvindo do meu pai a seguinte frase: Se conselho valesse alguma coisa ninguém dava vendia. Afinal, não sou dada ao achismo e permito emitir alguma opinião somente quando a mesma é solicitada. Sou um ser inconcluso, com muitos defeitos e descrevê-los aqui seria quase impossível. Logo, não sou um “modelo” para ser seguido (nem pretendo ser).
Por mais que diga e repita que “cada um dá o que tem” e que “nunca devemos esperar uma atitude nossa no outro”, certas coisas ainda me deixam de alma entristecida. Ser subestimada é uma delas, principalmente minha inteligência. Penso que certas circunstâncias acontecem por ainda acreditar no que o outro profere. Mentir é um verbo que não faz parte do meu vocabulário. Se alguém diz que o carro é vermelho e vejo que é preto não discuto, já que o mesmo pode estar vendo de outro modo. Para que discutir? Li uma frase de Gandhi que diz: “Não há caminhos para a Paz. A Paz é o caminho”. Portanto, minha vivência é pautada na paz! Dar e receber paz é algo fundamental à minha breve existência.
Enfim, hoje amanheci calada, com a alma triste. Perceber a dimensão do vazio do outro é algo que ainda me entristece. Perceber o quanto as pessoas proferem palavras que se consomem no vazio. Talvez sejam almas vazias a gemer pelos cantos. Que numa busca sem fim trilham caminhos que levam a um vazio maior ainda... E num ciclo vicioso se arrastam, se corroem e se perdem tantas vezes.
Mas quem sou eu para julgar?!...Sou apenas um ser incompleto... Que vive entre o real e o imaginário.
Roseli A.
25/12/2010

sábado, 25 de dezembro de 2010

Presente de Natal!....



Ontem, véspera de Natal, recebi pelo correio um presente. Quando olhei o remetente jamais imaginei que fosse minha amiga virtual Nilce Léa, já que estava com o endereço da Universidade Cruzeiro do Sul.
Confesso que fiquei emocionada ao ver o conteúdo do pacote: um lindo cartão, uma caixa de bombons e o livro “trocando Olhares” de Florbela Espanca.
Bom perceber que alguém conseguiu delinear um pouco de mim, me ver além de uma simples tela de computador. E nas entrelinhas ela conseguiu ler meu sentir.
O primeiro poema que li foi saboreando um bombom... Ele não tem título, mas foi escrito em 28 de fevereiro de 1916.
Li um dia, não sei onde,
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e os outros
Contentam-se em ser amados.
Fico a cismar pensativa
Neste mistério encantado…
Digo pra mim: de nós dois
Quem ama e quem é amado?…

Florbela foi uma mulher muito intensa. Ela sabia que nenhum homem poderia corresponder ao amor que ela ofertava: “Um homem? - Quando eu sonho é o amor de um Deus?” Como no poema “Ambiciosa”: (Charneca em Flor, 1930)

Para aqueles fantasmas que passaram,
Vagabundos a quem jurei amar,
Nunca os meus braços lânguidos traçaram
O vôo dum gesto para os alcançar ...

Se as minhas mãos em garra se cravaram
Sobre um amor em sangue a palpitar ...
__Quantas panteras bárbaras mataram
Só pelo raro gosto de matar !

Minh’ alma é como a pedra funerária
Erguida na montanha solitária
Interrogando a vibração dos céus !


O amor dum homem ? __Terra tão pisada,
Gota de chuva ao vento baloiçada ...
Um homem ? __Quando eu sonho o amor de um Deus!...

Obrigada Nilce!
Roseli A.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando a noite cai...



Quando a noite cai ela sai do casulo.

Misteriosamente se converte.

De lagarta se transforma em borboleta.

Puro encantamento!

Iluminada pela lua,

os desejos afloram.

Meias de seda.

Unhas vermelhas.

Lábios escarlates.

Sorriso sedutor.

Desejo latente.

Que queima
.
Consome a carne.

Que faz delirar...
Roseli A.
04/09/2010

Cântico II...Cecília Meireles...




Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu
Extraído da "Antologia Poética", Editora Record - Rio de Janeiro, 1963.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Iguais e diferentes...



Somos iguais...
Na cor.
Desejos
Sonhos.
Amores.
Pesares.
Somos iguais...
Na dor.
Anseios.
Frustrações
Decepções.
Esperas e procuras.
Somos tanto
E não somos nada...
Vejo-me em você.
E você em mim.
Nada além...
Apenas iguais
E diferentes...

Roseli A.

Coisas da Paixão...Emílio Santiago



Coisas da paixão, só quem sabe é o coração
Coisas pra dizer, quando eu olho pra você
Que a natureza vê em meu olhar
Um outro céu, um outro mar, amor
Nossos olhos tem a mesma voz
A mesma cor, o mesmo tom maior
Nossos olhos navegando assim
Até o fim, até a foz do amor
E o que é o amor, pergunta sem resposta
Quem sabe o coração quem sabe
Mesmo sem falar, eu ouço o que você não diz
O amor que eu sempre quis,
Me diz pra gente ser feliz
Mesmo sem falar, eu ouço o que você não diz
O amor que eu sempre quis,
Me diz pra gente ser feliz



Dias de lua...Emílio Santiago


Pode ser apenas impressão
Uma assobração que vive a me matar
Envenenamento de paixão
Calafrio quente natural
Anda em corda bamba o coração
Acidentalmente sem se machucar
No escoderijo da paixão
Traição é coisa natural (natural)
Mais uma dose
Arranha, incedeia e não faz mal nenhum
Dose de amor é tão comum
E eu quero tudo:
Lua em pleno dia, e por que não...


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Espelho de desejos...



Seus olhos espelho de desejos.

Seu corpo trigo que sacia.

Seu ventre mel que adoça.

O tom da sua voz doces sussurros.

Sua língua quente desperta vontades.

Deixa meu corpo arrepiado.

E na sede imensa do seu sentir.

Não consigo deixar de te olhar.

De tentar desvendar seus mistérios.

E com o riso ainda em minha boca.

Tento disfarçar meu sorriso.

E na liberdade que desejo.

Adormeço...

Desperto com os raios do sol

Pelas fendas da janela...

Teus dedos afagam meus cabelos.

E busco o gosto da tua língua.

Entrego-me outra vez.
Roseli A.
domingo 19/12/2010