Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Clarice Lispector
Escrevo como se estivesse dormindo e sonhando: as frases desconexas como no sonho. É difícil, estando acordado, sonhar livremente nos meus remotos mistérios.Clarice Lispector

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Ausência...


Ausente de mim.
Resisto...

Subsisto.

Sem sentir.

Sem alma.

Sem caminhos.


Ausente de ti...

Feito um rio.

Vazio.

Sem vida.

Sem curso.

Sem margem...


Perdida de mim...

Feito noite sem lua.

Tão vazia.

Fria.

Ausente de ti...

Ausente de mim...

Roseli A.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Sobre coisas mágicas...



Sentada na varanda observo a chuva fina que caí. Posso sentir o cheiro da terra molhada. Simplesmente adoro! Traz uma sensação de paz e a chuva parece lavar minh’alma. A brisa que sopra desalinha meus cabelos e embala meu corpo. Fecho os olhos para senti-la e (re)visito um passado recente. (Re)visitá-lo me faz pensar sobre o que torna um momento mágico. Viver cada momento como se fosse único o torna mágico e intenso. Prefiro viver um momento mágico em uma noite do que viver uma vida toda ao lado de alguém que não venha acrescentar nada a ela.

Até mesmo deliciar uma taça de sorvete pode ser tornar um momento mágico. Sim uma taça de sorvete de chocolate!...rs Aproveitar o sabor e a sensação gelada na boca, hummm! Deleitar o momento pode instigar bons pensamentos. Nos momentos mais simples meus pensamentos ganham asas, dando asas à imaginação. São pensamentos envolventes de doces lembranças, que transbordam em momentos mágicos.

A palavra “mágico” está relacionada à magia. Algo que não tem explicação natural, sobrenatural e que produz efeitos extraordinários, fascinante, encantador. Boa definição!

Tenho vivenciado momentos mágicos. Momentos bons que vou levar para a vida toda. Nem penso se vou vivê-los novamente apenas optei por vivenciá-los intensamente. Se tenho medo?...Tenho medo de não viver, isso sim me dá medo!

Enfim, sou uma mulher de sorte! E meu entendimento acerca de “ter sorte” talvez seja diferente do que a maioria das pessoas tem. Mas a questão pode dar margem a outro texto. Quem sabe escrevo sobre!

Eis que Clarice Lispector estava certa quando escreveu:

... Uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, espararei quanto tempo for preciso.

24/10/2010

domingo, 9 de janeiro de 2011

Monólogo de luz...




Ah, nós... Cúmplices de um desamparo velado!
Quero aprender o cotidiano do amor discreto.

Minha agonia tem asas de borboleta.

Asas que se debatem, presas no emaranhado de idéias

vis e vãs

a apropriar-se de minha mente.

Minhas asas machucadas podem se curar,

mas minha alma exauriu-se.

Não quero mais dançar mambo só para te seduzir...

acabou!!! Não posso mais!!

Tento não recair em minhas decisões.

Tento olhar para frente,

seguir em direção ao horizonte, mas meus passos,

pesados, voltam atrás...

Minha alegria incontida,

vinha de onde então?

Agora me deparo com um enorme buraco

me separando de mim...

Busco a fonte das minhas intensidades...

Minhas buscas infindáveis, solitárias...

O grande trunfo da vida: revelar-nos!
E ocultamos para sempre

sob todos os tapetes a terrível verdade:

somos seres solitários!

A solidão, agora, me dá a dica da cura...

Curti-la até

seus mais amargos sabores.

Entorpecida,

o cérebro dormente,

tento escutá-la com seus discursos fantásticos.

Só o que ouço são ruídos roucos

a me atormentarem o espírito.

Esse monólogo é árduo!

Caminho sem volta,

uma velha ponte em seu curso.

Passar por ela é abdicar-se das ilusões vividas,

dos delírios conscientes

criados só pra deixar de doer tanto...

É deixar as alucinações

no passado longínquo para fazer arder menos

as chagas abertas no caminho...

Passar por essa velha ponte é arriscar-se na travessia!

Com a fraqueza de quem se desfalece ante da dor,

enluto-me.

Enluto-me por aquilo

que realmente nunca tive.

Meu coração em luto

por perder o que, veramente,

nunca possuí.

Minhas memórias,

telas imaginárias,

esfaceladas, craqueladas,

dissolvidas pela dura realidade

a suportar em silêncio.

O silêncio agora impera em mim

e espera ecoar pelos anos a vir.

Viver? Sim! Claro!!!

Não mais por migalhas

e sim

por pedaços inteiros,

robustos, recheados...

Viver... a poesia dos dias de encantamento

construídos cotidianamente,

fantasiados de luz.

Quero transcender... Brilhar!!!

Até que, como um vaga-lume,

possa iluminar

meu próprio caminho.

Bethânia Loureiro


Disponível em: http://complementossujeitos.blogspot.com/2010/12/monologo-de-luz.html

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Quero desnudar minh'alma. Aqui, ali e além...


Quero desnudar minh'alma. Aqui, ali e além...

Será que meu sentir é tão diferente assim?! Um sentir que (quase) me faz crer que não pertenço a este mundo.

Meu mundo transita entre o real e o imaginário. Real visto que não vivo de sonhos, embora precise do imaginário para sonhar o que o mundo não pode me oferecer. Meu mundo é colorido, torrencial e de uma alegria sem motivo. De um coração embevecido de paz.

Pessoas que explodem por nada me deixam entorpecida. Literalmente eu murcho. Fico apenas a olhar e pensar: Porque não me lembro de ter sido assim?

É certo que tenho tantos defeitos, mas talvez o outro tenha defeitos irremediáveis. Creio que somente a vida poderá mostrar ao outro o caminho a ser trilhado. Talvez um caminho com algumas pedras e espinhos, já que são necessários para amadurecemos.

Estou lendo Florbela Espanca. Ela foi uma mulher intensa que sabia que nenhum homem poderia corresponder ao amor que ela ofertava: “Um homem? - Quando eu sonho é o amor de um Deus?” (Poema “Ambiciosa”, Charneca em Flor, 1930). Eis que talvez todos estejam certos ao afirmar que Florbela nunca encontrou alguém capaz de merecer o seu amor. Um amor que transbordava poesia. De uma poesia que transbordava amor.

E na procura de algo que não existe nos tornamos melancólicos. Uma alma perdida...

Alma Perdida...

Toda esta noite o rouxinol chorou,
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, a alma doente
D’alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh’alma
Que chorasse perdida em tua voz!…

Florbela Espanca-Livro de Mágoas.