Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Clarice Lispector
Escrevo como se estivesse dormindo e sonhando: as frases desconexas como no sonho. É difícil, estando acordado, sonhar livremente nos meus remotos mistérios.Clarice Lispector

domingo, 9 de janeiro de 2011

Monólogo de luz...




Ah, nós... Cúmplices de um desamparo velado!
Quero aprender o cotidiano do amor discreto.

Minha agonia tem asas de borboleta.

Asas que se debatem, presas no emaranhado de idéias

vis e vãs

a apropriar-se de minha mente.

Minhas asas machucadas podem se curar,

mas minha alma exauriu-se.

Não quero mais dançar mambo só para te seduzir...

acabou!!! Não posso mais!!

Tento não recair em minhas decisões.

Tento olhar para frente,

seguir em direção ao horizonte, mas meus passos,

pesados, voltam atrás...

Minha alegria incontida,

vinha de onde então?

Agora me deparo com um enorme buraco

me separando de mim...

Busco a fonte das minhas intensidades...

Minhas buscas infindáveis, solitárias...

O grande trunfo da vida: revelar-nos!
E ocultamos para sempre

sob todos os tapetes a terrível verdade:

somos seres solitários!

A solidão, agora, me dá a dica da cura...

Curti-la até

seus mais amargos sabores.

Entorpecida,

o cérebro dormente,

tento escutá-la com seus discursos fantásticos.

Só o que ouço são ruídos roucos

a me atormentarem o espírito.

Esse monólogo é árduo!

Caminho sem volta,

uma velha ponte em seu curso.

Passar por ela é abdicar-se das ilusões vividas,

dos delírios conscientes

criados só pra deixar de doer tanto...

É deixar as alucinações

no passado longínquo para fazer arder menos

as chagas abertas no caminho...

Passar por essa velha ponte é arriscar-se na travessia!

Com a fraqueza de quem se desfalece ante da dor,

enluto-me.

Enluto-me por aquilo

que realmente nunca tive.

Meu coração em luto

por perder o que, veramente,

nunca possuí.

Minhas memórias,

telas imaginárias,

esfaceladas, craqueladas,

dissolvidas pela dura realidade

a suportar em silêncio.

O silêncio agora impera em mim

e espera ecoar pelos anos a vir.

Viver? Sim! Claro!!!

Não mais por migalhas

e sim

por pedaços inteiros,

robustos, recheados...

Viver... a poesia dos dias de encantamento

construídos cotidianamente,

fantasiados de luz.

Quero transcender... Brilhar!!!

Até que, como um vaga-lume,

possa iluminar

meu próprio caminho.

Bethânia Loureiro


Disponível em: http://complementossujeitos.blogspot.com/2010/12/monologo-de-luz.html

Um comentário:

  1. Nossa Roseli, que doce surpresa ver um "escritinho" meu por aqui! Obrigada pelo privilégio de me colocar em espaço tão valoroso!!!
    grande beijo

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