Eu não sou promíscua. Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro. Clarice Lispector
Escrevo como se estivesse dormindo e sonhando: as frases desconexas como no sonho. É difícil, estando acordado, sonhar livremente nos meus remotos mistérios.Clarice Lispector

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Vivendo e aprendendo...


Oscar Wilde afirma que: “nunca confie na mulher que diz a verdadeira idade, pois se ela diz isso... Ela é capaz de dizer qualquer coisa”... Afinal, já que sempre digo minha idade, então falo o que penso sem piedade...No entanto, digo tudo que penso, mas penso sobre tudo que digo... Cautelosamente...
Enfim, essa semana me senti envergonhada de ter escrito “cautelosamente”. Diante que falei coisas que, de certo modo, me arrependi. Não que elas não fossem verdades aos meus olhos. Porém, me questionei o porquê de dizer coisas que o outro não vai assimilar, uma vez que o seu mundo é limitado. Restrito ao seu modo obscuro de ver e sentir a vida.

Aquela velha história que depois dos quarenta não engolimos os sapos de outrora. Entretanto, na maioria das vezes, perdemos uma boa oportunidade de ficarmos calados, viramos as costas e irmos embora...
Desde que rompi com meus preceitos estou reflexiva. Na verdade somos sujeitos responsáveis por cada palavra proferida, seja ela pensada ou não. Somos responsáveis por nossas flechas lançadas, que de sensatas não tem nada. Mas o que não percebemos é que aquele sujeito que tira (literalmente) o outro do sério também é responsável. Será que vale a pena se desgastar tanto por algo assim?
A resposta é um sonoro, NÃO! Passamos anos buscando entender nosso sentir e, como um passe de mágica, tudo vem ABAIXO em poucos minutos...
O melhor é virarmos as costas e irmos embora? ... SIM! E, sem olharmos para trás...


Até

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A arte de ser feliz... Cecília Meireles...



Quem me conhece sabe que ler poesias faz parte de minha rotina habitual. Lendo o poema “A arte de ser feliz” trouxe-me doces lembranças de minha infância. Lembrei de minhas férias no sitio dos meus avôs maternos. Era uma criança magrela, espevitada e o meu falar não era compatível para uma menina de cinco anos... Na verdade devia dar uma “canseira” em todos...
Ah! São tantas Histórias de infância que penso que deveria escrever sobre... Eis o poema:

Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus
dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.